Esta é uma pergunta que muitos profissionais devem estar se fazendo. Ela tomou maior relevância pois vivemos uma era onde temos um número muito maior de pessoas trabalhando em atividades mais intelectuais e menos braçais. Os trabalhadores das indústrias viram seus empregos ameaçados pela automação e robotização, num fenômeno que avançou rapidamente pelo mundo todo, chegando, inclusive, aos países em desenvolvimento, e quando seus empregos acabaram se viram forçados a migrar para outros ramos, mais notadamente o comércio e a área de serviços.
Além disso, contribui para o fator de incertezas os recentes avanços da IA generativa, que vem avançando sobre um território tido como exclusivamente humano: a criatividade. Então é bastante natural você se questionar a respeito da continuidade do seu sustento, mas infelizmente esta não é uma pergunta fácil de se responder, pois existem muitos fatores que precisam ser levados em conta. Neste artigo, vamos elencar alguns que julgamos mais relevantes:
Meu trabalho é repetitivo ou envolve manipular textos
Existem tarefas que são altamente repetitivas, como a leitura de documentos e a sua transcrição para um sistema, ou a confecção de resumos (súmulas) para fundamentar a jurisprudência em um processo legal, por exemplo, que podem se beneficiar da automatização. Se o tipo de trabalho que você executa pode ser feito por algum robô, seja de software ou de hardware, a resposta é sim, a depender do que é mais barato: você, como mão de obra, ou o custo de implantação e manutenção da automação. Esta é, por mais fria que possa parecer, a equação que as companhias normalmente avaliam quando o assunto é decidir entre pessoas e máquinas.
Meu trabalho requer um alto grau de discernimento e avaliação
Neste caso a resposta é talvez. Apesar dos avanços da IA generativa, ela só é eficiente até o limite do que foi servido à ela durante a etapa de treinamento do modelo. Veja bem, o ChatGPT e outros modelos LLM generativos, para chegarem ao nível de excelência atual a ponto de nos causar assombro, precisaram ser treinados com volumes absurdos de dados, na maioria das vezes da ordem de "uma Internet inteira". Ainda assim, como você pode observar na imagem gerada pelo Dall-e que ilustra este artigo, a capacidade do modelo ainda está aquém do desejado. Da mesma forma, resultados oferecidos pelo Chat-GPT, pelo Google Bard e outros modelos textuais costumam conter dados "fabricados" e imprecisões, que o mercado está chamando de "alucinações da IA". Isto quer dizer que passar a produção automatizada pelo crivo humano ainda é algo não só necessário como também recomendado.
Meu trabalho é criativo
A criatividade tem sido uma espécie de último refúgio da humanidade, longe dos robôs e da automação. No entanto, com o surgimento de ferramentas que permitem gerar texto, som, imagem e vídeo a partir de uma entrada dada, este refúgio humano parece estar ameaçado.
Algumas empresas estão começando a repensar a quantidade de programadores, por exemplo, dado que os sistemas generativos podem gerar código-fonte. Designers estão se sentindo ameaçados na medida em que mais e mais empresas estão usando a IA generativa no seu lugar.
Até mesmo músicos e compositores e, ainda em menor escala, mas num crescente, atores e roteiristas, também estão preocupados com a crescente utilização de ferramentas de geração de conteúdo automatizadas.
Quais seriam então os limites "criativos" da IA?
Como foi dito antes, diferentemente da criatividade humana, a IA generativa está limitada ao que aprendeu. Além disso, ela não consegue criar sem que antes tenha sido brifada, ou seja, é preciso dizer para ela o que se pretende que ela faça. Na imagem ilustrando este blog, foi pedido ao Dall-e que gerasse uma "foto de um robô e um humano sentados lado-a-lado numa sala de espera para uma entrevista de emprego, aguardando que o próximo seja chamado". Apesar de a imagem oferecida atender aos requisitos, a sua qualidade e o seu realismo podem ser questionados. Inclusive, alguns dos exemplos oferecidos pelo Dall-e mostraram dois robôs e nenhum humano sequer, contrariando a diretriz inicial e mostrando que a interpretação do texto pela IA ainda requer ajustes.
Conversando com colegas programadores de diversas áreas e que usam ou já usaram a IA do Github (o Copilot) para obter código que pudesse acelerar algum desenvolvimento, a maioria se disse decepcionada com o resultado oferecido pois levariam muito tempo para "debugar", entender e adaptar esse código ao que estavam escrevendo. Isto, no entanto, não os impede de buscar suporte na automação para resolver problemas pontuais, onde as linhas de código sejam em menor número e, por isto , mais fáceis de se entender e incorporar.
Também vale ressaltar que a IA generativa é uma tecnologia que ainda está nos seus primórdios.
Qual deve ser minha abordagem perante a ameaça da IA à minha carreira?
Se não pode com eles, una-se a eles, diz o ditado. De fato, reconhecer os riscos que a automação e a IA trazem para o seu emprego pode lhe trazer desconforto emocional e a perda de sono. Melhor então é aprender como usar estas ferramentas e como aplicá-las no seu dia-a-dia para torná-lo um profissional mais produtivo, e assim, mais valorizado na empresa.
Existem vários cursos, muitos deles gratuitos, sendo oferecidos por instituições de ensino diversas. A Cognitiva tem um curso muito interessante voltado para capacitação de equipes no uso e aplicação de ferramentas de IA no dia-a-dia das empresas. Pense nisso como uma forma de turbinar seus conhecimentos de ferramentas como o Excel, por exemplo, utilizando os dados da empresa para extrair deles algum "conhecimento oculto", um comportamento ou predizer, com maior grau de probabilidade, eventos e quantidades futuras. Este curso foca em modelos de Machine Learning não generativos que podem ser usados para correlacionar, classificar, aglomerar ou segmentar dados ou realizar previsões (previsão de demanda, previsão de pedidos, etc.).
Além disso, você mesmo pode experimentar a IA generativa nos sites abaixo:
Google Bard e ChatGPT para trabalhar com textos e código-fonte
Github Copilot para código-fonte
Dall-E, Canva, Adobe Firefly e Microsoft Paint (no Windows 11) para gerar imagens
Pika para gerar videos, e muitos outros.
Conclusão
Como vimos, a resposta ao questionamento do titulo deste post pode ser desde um retumbante "sim" até um mais plausível "talvez". O importante não é se preocupar se ou quando a IA vai tomar o seu lugar, mas sim conhecer esta tecnologia e saber como tirar proveito dela da melhor forma, de modo a que você se torne um profissional mais produtivo e valioso perante o mercado de trabalho. A IA está limitada ao que já aprendeu. Você não. E isto é maravilhoso!

A julgar pela imagem gerada pelo Dall-e para este post, os designer ainda não tem com o que se preocupar 🤣 Mas brincadeiras à parte, esta é uma tecnologia que veio para ficar.